LUIZ CARLOS

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domingo, 25 de maio de 2008

O ultimo espetáculo (conto)


meu sonho sempre foi dançar. A minha família... Analisando bem, é toda formada por artistas... Toda, que eu digo, é no sentido de pai, mãe, e irmãos, entende ? Meu pai sempre foi um grande pintor de quadros, pintava quadros lindos ! Eu não entendo como alguém com um dom tão bonito, podia, ter uma mente tão pequena,"e tão terrivel" ! Vai ver foi por isso, que seus quadros jamais passaram os limites do interior da nossa casa ! Minha mãe tocava muito bem o piano, e cantava divinamente... Tinha o sonho de alcançar o estrelato. Mas daí ela se casou... Eu sei que não deveria ter nada a ver ! Mas de alguma maneira ela deixou que podassem as suas possibilidades, e acabou desistindo e se dedicando apenas ao lar... Eu tenho três irmãos mais velhos do que eu. E também os considero artistas... Artes marciais! Quando tudo começou, meu irmão mais velho estava com vinte e um anos de idade, e já era faixa preta em caratê. O outro abaixo dele, tinha dezesseis, e estava trilhando o mesmo caminho.E o outro tinha dez. Mas este gostava mais de judô! Nenhum dos meus irmãos, e isso eu posso garantir, passaram de algumas medalhas sem expressão, e muitos tapinhas nas costas... Quando meus irmãos estavam com estas idades que mencionei, eu estava com apenas cinco anos de idade. É claro que meu irmão mais velho não iria perder tempo. Ele, pensando em preparar o novo lutador da família, começou a me passar os treinamentos... E ficou muito surpreso com a elasticidade do meu corpo, e com a leveza dos meus movimentos. Ele passou a dizer a todos, que eu seria o ninja da família... Meu pai já estava todo orgulhoso, ele via em mim a esperança, talvez, de uma medalha olímpica, ou algo do gênero. Mas quanto mais eu ia crescendo, ia percebendo que aquela coisa de luta não era para mim... Com dez anos, eu conheci a Nicole. Filha da dona de uma escola de ballet... Ela tinha apenas oito anos, e era a melhor aluna lá da escola... Também, filha da professora! É, mas não era só isso não! A menina era boa mesmo... Ela e eu ficamos muito amigos, e passei a freqüentar a escola, mas só como espectador. Um dia, Dª. Sofia, mãe de Nicole, professora e dona da escola. Me deixou fazer uma aula grátis... Ela ficou impressionada com a facilidade com que eu pegava os passos... Não sei por que tanto espanto ! Afinal, eu já não estava há dias, vendo-a ensinar aquilo pros alunos ! Cada uma hein ! Mas o fato foi que ela não me deixou mais sair de lá... Eu disse que não podia pagar as aulas. Ela disse que não seria preciso... Eu disse que minha família, principalmente meu pai, não permitiria... Ela disse que depois a gente pensava numa maneira de contar a eles. Mas ela fez muita questão de saber de um importante detalhe... Ela me perguntou se eu estava mesmo disposto a enfrentar a dureza dos treinamentos, alguns comentários preconceituosos que provavelmente surgiriam... Enfim, enfrentar tudo, a fim de me tornar um grande bailarino... Um grande bailarino, ela disse! E eu respondi que sim... Que era tudo o que eu queria! Então passei a treinar duro. E com o tempo passei a não mais freqüentar as aulas de caratê. Meu irmão disse que se eu não me empenhasse mais nos treinos, iria me tirar do grupo... Ele disse apenas para me assustar. mas daí eu falei que não queria mais mesmo... Nesta ocasião, eu já estava com quase treze anos. E junto com Nicole, já era mais que uma promessa para o mundo da dança... Quando abandonei o caratê, meu irmão nem se importou. Ele era como a Dª. Sofia, queria junto com ele apenas quem estivesse com muita vontade de aprender o que ele estava se propondo a ensinar... Mas meu pai ! O meu pai ficou P. da vida... Veio falar comigo, ameaçou, lá do jeito dele ! Mas eu não quis saber não !... O pessoal lá em casa, percebia que eu sumia de vez em quando. Mas ninguém sabia por onde eu andava... Só a minha mãe ! Um dia eu fui conversar com ela sobre o assunto. Eu estava muito feliz, pois havia atingido um grau muito alto no ballet, e já estava sendo observado por profissionais experimentados, que poderiam me encaminhar à uma boa companhia de dança... Eu pensava em contar para todo mundo. Mas só a reação da minha mãe já foi o suficiente para eu desistir... Ela reagiu como se eu tivesse chegado para ela e dito: Mãe, eu sou gay ! Ela me proibiu de falar ao meu pai sobre o assunto... Disse que ele ficaria muito decepcionado... Decepcionado ficou eu, com ela ! Mas mesmo assim, mantive o segredo... Até que chegou um tempo em que não foi mais possível esconder o que eu andava fazendo. Daí todo mundo ficou sabendo, e a cidade inteira começou a comentar... Mas ao contrario do que imaginei que seria, os comentários não eram nada maldosos... A não ser por parte de meia dúzia de ignorantes... Minto !... Uma dúzia de ignorantes. Só a minha família já dava quase meia!... Meu pai me chamou para conversar. Foi uma conversa difícil, alias, foi uma conversa impossível... Ele me chamou de tudo de ruim, que você puder imaginar. Mas aí, eu já não era mais nem uma criança, e falei para ele tudo o que pensava... Eu só tinha quinze anos. Sei que deveria respeitá-lo ! mas ele me desrespeitou primeiro. E eu nem faltei com o respeito, apenas disse a verdade... Eu disse para ele, e para a minha mãe, “de quem eu esperava um apoio que não veio”, e para os meus irmãos também, que não se manifestaram, mas me lançavam um olhar de decepção... Eu disse que eles eram todos frustrados na vida. Pois nenhum deles havia alcançado o objetivo que almejaram... Eram todos uns fracassados ! Eu chutei o balde mesmo ! Meu pai já havia me humilhado, me colocado abaixo de zero! Nem mãe, nem irmão... Ninguém tentou argumentar com ele... Pro inferno todo mundo! "Eu pensei, mas não mandei." Antes tivesse mandado! Pois meu pai me mandou para bem mais longe... Mandou-me embora, e disse que era para eu nunca mais pisar naquela casa. E logo corrigiu... E disse que o melhor que eu poderia fazer, era sair da cidade e não voltar nunca mais. Pois se um dia eu retornasse, e ele ficasse sabendo. Não pensaria duas vezes, antes de me dar um tiro... "Isso lá é coisa de um pai dizer ao filho!" Mas eu fui embora... Passei a primeira noite no salão da escola. A Dª. Sofia quis me segurar de toda maneira, Chamou-me para ficar na casa dela, mas eu é que não queria mais ficar naquela cidade. Então, no dia seguinte fui embora para uma cidade próxima... Passei alguns dias na rua, junto com uns moradores de rua, que foram muito gente boa comigo. Dormi por uns dias, embaixo do viaduto junto com o pessoal... Mas tudo isso, era só até eu arrumar um bom lugar para poder ficar. Só que eu nem tive que procurar muito, pois Dª. Sofia, que há dias estava me procurando. Me encontrou, e me levou para uma casa que ela tinha naquela mesma cidade... Ela conversou comigo, e me convenceu a aceitar sua ajuda... Como se fosse preciso me convencer! Mas é que eu estava tentando demonstrar um pouco de orgulho. sabe como é ? Mas na realidade eu já esperava mesmo que ela aparecesse... Ela já havia me falado a respeito de uma possível viagem para o estrangeiro. Dª. Sofia era muito bem relacionada no mundo da dança clássica. Ela era uma empresaria... Não sei se é bem essa a definição para o que ela fazia. Eu nunca me acostumei com esta parte burocrática da coisa. O fato é que ela já havia encaminhado dezenas de bailarinos clássicos, para as diversas companhias de dança do mundo inteiro... Mas no meu caso, e no de Nicole, era muito diferente ! Ela não só iria nos encaminhar, mas também, nos acompanhar durante toda a nossa trajetória profissional, lá na Rússia... Isso mesmo ! Na Rússia ! As maiores companhias de dança clássica, e contemporânea, estão lá... Por isso ela foi lá me tirar da rua, e me levar para sua casa... Eu sei que ela não fez isso por mim, e sim pelo dinheiro, prestigio, e tudo mais que ela esperava ganhar com a minha provável ascensão! Eu sei que, se eu não fosse um bom bailarino, ela não se importaria comigo! Mas o fato é que de alguma forma, ela se importou, e me ajudou... Porque eu valia a pena! Mas eu sabia da minha importância para ela... Nicole e eu fazíamos uma dupla perfeita ! E mesmo precisando de uma autorização dos meus pais, para que eu pudesse viajar, e não tendo... Ela deu um jeito e me levou juntamente com sua filha Nicole, para Moscou... Eu nunca me preocupei, sabia que conseguiria! E depois de ficarmos por algum tempo em uma companhia de porte médio. Finalmente o nosso talento foi reconhecido, e fomos contratados por uma das maiores companhias de dança clássica do mundo... E daí para o estrelato,foi preciso apenas um pequeno salto... Nós chegamos ao topo... Nicole e eu, passamos a ser considerados os maiores bailarinos clássicos da atualidade. E viajamos em turnê pelo mundo inteiro... Ou quase! Apesar de muito requisitada no Brasil, a famosa dupla, Fred e Nicole... Nunca havia se apresentado em seu país de origem. Dª. Sofia e Nicole, sempre quiseram aceitar aos convites, mas sempre respeitaram o meu tempo... Elas sabiam que no momento certo, eu também iria concordar em voltar ao Brasil. E o momento finalmente chegou. Nós já estávamos bem famosos. Eu já não tinha para onde crescer. Então pensei que seria um ótimo momento para voltar, e mostrar à minha família que eu havia conseguido... Que havia me tornado um artista importante, motivo de orgulho, e não de vergonha, como eles haviam imaginado... E assim, depois de sete anos afastado do país. Dª. Sofia, Nicole, eu, e mais a companhia inteira de dança, Chegamos ao Brasil... Eu fiz questão, “e tive todo o apoio de Nicole,” de que a nossa ultima apresentação no Brasil, fosse em nossa cidade, aonde todos os amigos, “parentes”, e conhecidos, poderiam nos ver... Ao contrario do que possa parecer, eu não pretendia esfregar o meu sucesso na fuça da minha família! Na realidade, eu queria revê-los. Mostrar sim, que havia vencido! Mas acima disso, eu queria poder abraçá-los, ver, e sentir de perto, o tamanho do orgulho que eles deveriam estar sentindo de mim ! E foi com esta expectativa que pisei o palco daquele imenso, e belo teatro, que havia sido construído especialmente para receber a nossa companhia. Já havia um bom tempo que eles esperavam por nossa visita. Demoramos, mas finalmente chegamos à cidade. E eu, particularmente, fiquei muito feliz pelo carinho, com que fui recebido pelo povo de lá. Nicole e eu, éramos verdadeiros ídolos para eles... Confesso que não esperava tanto ! Só por isso já valeu a pena ter passado por tudo o que passei para chegar até aqui !... Na noite da nossa apresentação, o teatro estava superlotado. Não havia uma cadeira vazia... Mas havia as cadeiras reservadas à minha família. Numa primeira olhada que dei, eles não estavam lá. Mas logo em seguida pude os ver chegando... Estavam todos lá!... Meus irmãos não haviam mudado nada ! Minha mãe estava um pouco sofrida, e aparentava ter mais idade do que tinha realmente. Meu pai estava ainda pior... Bem mais velho, e acabado. E para piorar, ainda estava em uma cadeira de rodas... O que teria acontecido com ele!... Fiquei muito triste em vê-lo naquela situação! O espetáculo começou, e eu quis fazer o meu melhor, em homenagem a eles. E fiz... Ou melhor! Estava fazendo... Naquela noite, eu interpretava dançando como nunca!... Durante a apresentação, consegui olhar nos olhos da minha mãe... Ela me olhava com um olhar sem expressão... Daí eu sorri para ela, e ela também sorriu ! Meus irmãos me olhavam admirados. Pareciam orgulhosos... Eu pude perceber isto ! Mas notei que meu pai não havia me encarado uma vez se quer... Mas foi só até aquele instante... Naquele instante ele me olhou, no exato momento em que eu também o olhei. Então os nossos olhos se cruzaram, e os nossos olhares... Seu olhar era duro ! O meu era bem mais suave... Procurei encontrar alguma ternura em seu olhar... um pequeno motivo para lê sorrir. Não encontrei... Mas o sorri mesmo assim ! Ele não correspondeu... Apenas me olhava inexpressivamente. De repente seu olhar ficou estranho... Ele foi pondo vagarosamente, a mão direita por baixo da almofada da cadeira, na altura da sua coxa, e retirou de lá um revolver... E, ainda me olhando nos olhos, apontou a arma em minha direção, e começou a disparar descontroladamente... O primeiro me acertou o peito. O segundo também... O terceiro eu nem sei ! Mas sei que foram pelo menos três!... Daí pra frente eu não vi. Daí pra frente, eu nem percebi que o meu corpo estava ficando só, e a minha vida partia, sabe-se Deus para onde ! Mas enquanto eu ainda estava lá... Pude ver as pessoas, todas desesperadas, tentando salvar-me a vida... E meu pai ali, imóvel... Deplorável figura. Refém do rancor e da inveja... Vitima de seu próprio fracasso ! Ele disse que o faria. Mas enquanto eu ainda estava lá. Perguntava a mim mesmo... Será que se eu também tivesse fracassado, ele teria da mesma forma, cumprido a sua promessa ?...


LUIZ CARLOS.

Um comentário:

SP disse...

Passei por aqui e deixei este abraço...